A partir daí, nada mais em “Madame Teia” faz sentido. Se o plano de Ezequiel tem a consistência de farinha de trigo, suas presas sofrem de ausência completa de desenvolvimento dramático, não indo além de “jovens revoltadas com o mundo”. É doloroso ver Sydney Sweeney, uma das atrizes mais promissoras do cinema moderno, perdida em um papel coadjuvante ingrato e limitado.

Cada nova decisão narrativa é mais bisonha que a anterior, o que inclui uma viagem de Cassie ao Peru, bem no meio da ação, para “buscar respostas” no passado de sua mãe. Quando mais “Madame Teia” avança, mais ele afunda com a direção equivocada de S.J. Clarkson (veterana da TV, que fez “Jessica Jones” e “Os Defensores” para a Marvel), que inclui Ezequiel como um Homem-Aranha de R$ 1,99 e a perseguição de carros mais vergonhosa da história.

No balaio do “universo compartilhado” dos personagens do Aranha sem o Aranha, “Madame Teia” caminha de mãos dadas com “Morbius”, com o agravante de jamais assumir sua posição neste mundo. Adam Scott, por exemplo, interpreta Ben Parker, o tio de destino trágico do Homem-Aranha. Ele dá uma força à sua cunhada Mary (Emma Roberts), prestes a ter o bebê. Mas em nenhum momento você vai ouvir o nome da criança, Peter.

Isabela Merced, Dakota Johnson, Sydney Sweeney e Celeste O'Connor em 'Madame Teia'
Isabela Merced, Dakota Johnson, Sydney Sweeney e Celeste O’Connor em ‘Madame Teia’ Imagem: Sony

Quem tirou o menor palito em “Madame Teia” foi mesmo Dakota Johnson. Enquanto a atriz brilha em filmes independentes como “Suspiria” e “A Filha Perdida”, aqui ela ganha a tarefa ingrata de fingir que uma personagem mal concebida tem alguma substância. Nem se divertir em um candidato a blockbuster ela consegue, já que essa é uma aventura de super-heróis sem superpoderes, com as habilidades despertas de Cassie sendo unicamente psíquicas.

“Ah, mas as outras Mulheres-Aranha aparecem com seus uniformes no trailer”, você pode dizer. Bom, aqueles segundos nas prévias são o único vislumbre das atrizes – além de Sydney Sweeney, temos Celeste O’Connor e Isabela Merced – devidamente trajadas. Na versão que eu vi, não existe também uma cena pós-créditos, “marca” de tudo que tenha o selo Marvel. Talvez seja melhor. Sair do cinema assim que o filme termina, a essa altura, é uma bênção.

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